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Foto do escritorEditora Pendragon

A história do meu livro pode se passar em outro país?


Ao iniciar o processo de escrita de um livro, um dos questionamentos que inevitavelmente se faz é: Onde devo ambientar minha história?


Nesse momento, é normal que nós venhamos a recorrer às referências que nos encantam desde a infância: As ruas enevoadas de Londres, as estações de trem e a troca da guarda no palácio de Buckingham. Ou, quem sabe, Nova York com seus arranha-céus, suas histórias de super-heróis que salvam o mundo (no caso, os Estados Unidos). Talvez até o famigerado high school, com suas patricinhas impiedosas e seus nerds incompreendidos tenha lugar cativo em nosso imaginário.


Porque a verdade é que, a maioria de nós, cresceu com essas narrativas.

Elas passaram a fazer parte do nosso cotidiano de tal modo, que às vezes é difícil encontrar a linha que divide o nós e os outros.

E é a partir daí que começamos a rascunhar nosso primeiro livro e ― Deus! ― ele é genial. A protagonista talvez se chame Leslie, ou Brittany (a minha se chamava Kia e morava em Londres) e qualquer que seja o nome ou a locação da história, nós ficamos empolgados com o que estamos criando, porque algo incrível, algo maravilhoso, está saindo de nossas mentes e ganhando forma.


É precisamente nesse momento que alguns de nós resolvem estudar sobre escrita criativa, e é também nesse exato ponto que vem nossa primeira “queda” como escritores.

Quem nunca ouviu que ambientar histórias em outros países é síndrome de vira-lata? Quantos futuros escritores brilhantes já não se sentiram diminuídos e até pensaram em desistir da escrita por essas palavras?


Pois saibam que a história nos mostra que essa discussão é antiga, muito anterior ao próprio Nelson Rodrigues, o dramaturgo que cunhou o termo síndrome de vira-lata.

Já nos tempos do Brasil Império, se discutia sobre a influência estrangeira na literatura. Nessa época, a França era o mais importante polo cultural e ditava as tendências no mundo das artes. Em seu artigo intitulado Galofilia e Galofobia, a acadêmica Leyla Perrone-Moysés, discorre sobre essas influências e a relação da produção artística brasileira com a francesa, uma relação que, ora repelia, ora abraçava. Mais ou menos como acontece atualmente com nossos vizinhos da América do Norte.


Assim como nos dias de hoje, havia aqueles que acreditavam ser indispensável a um escritor viajar à França para se embebedar nas fontes da “verdadeira literatura”. Aqueles que ambientavam seus romances na Cidade Luz e até escreviam em francês. Ao mesmo tempo, também havia os que, imbuídos de um profundo nacionalismo, rejeitavam toda e qualquer influência estrangeira.

Acreditando em um certo purismo literário nacional que estava bem longe de existir na prática.


Essa discussão perdurou por mais de um século, até ganhar novos contornos na década de 1920, com a Semana de Arte Moderna e o Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade. Os modernistas trazem para as artes no Brasil uma visão conciliadora, que, ao mesmo tempo em que abraça o nacional, não rejeita o estrangeiro, muito pelo contrário, o absorve e o transforma em algo nosso.


E é esse, a meu ver, o ponto que mais importa para a nossa discussão lá do início:

Eu posso ambientar minha história em outro país?


A verdade é que não há certo ou errado. Na escrita de ficção raramente há.

Mas, que ao escrever as suas histórias, você possa pensar em todas as referências, sejam elas locais ou estrangeiras, e possa mesclá-las em algo inteiramente seu.

Porque no fim das contas é isso o que a história é: sua.

Então, independentemente do que qualquer um diga, faça suas escolhas, dê asas à sua imaginação e escreva!

Seu maravilhoso mundo está apenas esperando por você.


Juliana Martins

Formanda em Letras-Japonês

Autora Pendragon

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