Qual é o seu primeiro pensamento ao ouvir a palavra gueixa?
Talvez ele envolva vestes tradicionais japonesas, muito pó de arroz e penteados elaborados.
Talvez, assim como o de alguns ocidentais, ele esteja manchado por preconceitos e termos como prostitutas de luxo.
Talvez você simplesmente não tenha um pensamento concreto, ou uma resposta pronta. Tudo bem.
A história das gueixas remonta a um tempo anterior à Era Heian (794 ~ 1185), quando meninas vendiam seus serviços para entreter a alta sociedade. Algumas delas, por possuírem uma educação privilegiada, ofereciam serviços artísticos, ao passo que outras eram obrigadas pelas circunstâncias a recorrerem à prostituição.
Nessa época, o termo gueixa ainda não era utilizado, e em meio à efervescência das artes clássicas do período Heian, as profissões relacionadas ao entretenimento se misturavam, tornando tênue a fronteira que dividia uma da outra. Foi só muito mais tarde, no final do século XVIII, que o termo gueixa surgiu, atribuído a si mesma por uma prostituta, conhecida também por ser uma hábil musicista.
Apesar do início da história das gueixas estar intimamente ligado à prostituição, a popularização do termo tornou essa classe essencialmente feminina e as elevou a uma posição peculiar dentro da sociedade japonesa. Aquelas que desejavam se tornar gueixas eram educadas desde muito cedo nas artes e mesmo que as casas de gueixas ocupassem os chamados bairros de prazer, elas eram proibidas de vender serviços sexuais.
As gueixas ofereciam companhia cultural e intelectualmente estimulante, e carregavam consigo a dualidade de, ao mesmo tempo em que eram membros à parte da sociedade, também eram admiradas. Durante o período áureo dessa cultura, algumas gueixas se envolviam com seus danna ― homens ricos que patrocinavam seu estilo de vida dedicado às artes ―, mas esse sentimento estava mais ligado à ideia romântica do amor triste e belo, muito presente na cultura e literatura japonesa, do que à prostituição.
Mas talvez, depois de toda essa explicação, você esteja se perguntando: Onde a Casa das Hostesses entra nessa história?
Particularmente, acredito que uma coisa está profundamente ligada à outra. Em A Casa das Hostesses somos apresentados ao conceito de gueixa, sem que essa palavra seja mencionada uma única vez ao longo da narrativa.
A boate de Selina oferece não só drinks ou música, mas companhia para aqueles que estão cansados de suas jornadas de trabalho extenuantes. Um lugar onde podem falar e se sentirem ouvidos. Em sua leitura moderna da cultura das gueixas, A Casa das Hostesses nos oferece uma compreensão mais profunda do que realmente eram essas mulheres. Muito mais até do que outras obras ocidentais que se propuseram a tratar sobre o assunto. Até mesmo a confusão que alguns fazem entre gueixa e prostituta nos é esclarecida logo nas primeiras páginas.
“― Você me serve, conversa comigo, faz massagem… Faz parte dos serviços de uma hostess aliviar as tensões extras também? ― Indicou Yusuke e Marina se beijando e outros casais nos sofás próximos.
― Nosso trabalho é fazer com que o cliente se sinta bem acolhido aqui. Algumas hostesses fazem outra coisa também. ― A garota usou um tom incomodado. ― E outras se envolvem com os clientes, como Yusuke e Marina… Mas o nosso trabalho não tem nada a ver com isso, Souji.”
Talvez, para aqueles que procuram uma visão tradicionalista do Japão e das gueixas, a Casa das Hostesses não seja a melhor opção. Mas se você se propuser a olhar com atenção para a obra, verá que o amor belo e triste ainda está lá, tão vivo e pulsante quanto era séculos atrás. As obrigações para com a família, com o status, a melancolia de se viver em uma sociedade de consumo e a solidão do homem moderno são temas recorrentes dentro das obras da literatura japonesa e estão muito bem representados em a Casa das Hostesses.
E você? Já teve a oportunidade de conferir essa nossa obra recheada de história e elementos culturais tão interessantes? Comentem aqui!
Juliana Martins
Formanda em Letras-Japonês
Autora Pendragon
Eu acho tão interessante saber a história por trás do símbolo... Como o próprio texto diz, é muito mais que pó de arroz e penteados bem elaborados. 💜
Adoro a história delas. 🥰
Eu adorei o post, bastante informativo, eu não sabia da origem e achei bem interessante. estou amando cada post que leio